O anúncio aos pastores do nascimento do Salvador culmina com cantos de louvor a Deus: “Glória a Deus no mais alto dos céus e paz na terra aos homens por ele amados” (Lc 2, 14). Interessante observar como o louvor a Deus, cantado por uma “multidão da corte celeste”, vincula o “glória a Deus no mais alto dos céus” com a “paz na terra aos homens por ele amados”. E toda a vida de Jesus, narrada nos Evangelhos, mostra como a glória de Deus se manifesta na paz na terra.
Especialmente nesses tempos de manipulação e perversão religiosas, onde tanto se usa o nome de Deus em vão (até para justificar ódio, violência, tortura, preconceitos, injustiça, guerra…), a celebração do natal do Senhor é ocasião privilegiada para recordar que não se pode dar glória a Deus sem se preocupar e se comprometer com a paz na terra. O verdadeiro culto a Deus é inseparável da realização de sua vontade neste mundo.
Olhando para a vida de Jesus sabemos quem é Deus, qual é o seu projeto para nós e qual o culto que verdadeiramente lhe agrada. Daí a importância de voltarmos sempre a Jesus: Belém, Galileia, ceia, cruz, Emaús…
Ele nos revela um Deus que ama, cuida, perdoa, acolhe, cura, liberta, reconcilia; um Deus que se preocupa com o bem de seus filhos/as, sobretudo dos doentes, pobres e marginalizados; um Deus que age a partir de baixo, dos pequenos e simples e não a partir dos palácios e dos poderosos; um Deus que não quer sacrifícios, mas misericórdia e que não tolera culto com injustiça. Jesus chama a Deus de pai/paizinho, fala de Deus como pai de misericórdia e anuncia seu reinado de fraternidade, justiça e paz.
E ao revelar esse jeito de ser/agir de Deus, Jesus revela também a vontade de Deus para nós. Não por acaso, ele insiste tanto na vivência do amor fraterno (Jo 3, 34-35) – até com os inimigos (Mt 5, 43-47) – e põe como critério para herdar a vida eterna ou o reino dos céus o fazer-se próximo dos caídos (Lc 10, 5-37), o fazer ou não fazer pelos pequenos e necessitados (Mt 25, 31-46). E a Carta aos Hebreus nos recorta que os sacrifícios que agradam a Deus são a “prática do bem e da partilha” (Hb 13, 16).
Esse é o Evangelho de Jesus Cristo e a e Boa Notícia que a Igreja tem para o mundo: Deus é bom e quem crê nele, como Jesus, na força do Espírito, passa no mundo fazendo o bem (At 10, 38). Mas isso não pode ser um discurso vazio e falacioso. A verdade desse discurso precisa ser verificada e comprovada na vida dos cristãos e das comunidades cristãs. O anúncio do amor de Deus pala humanidade (verdade central da nossa fé) passa pela vivência do amor fraterno para com todos/as, de modo muito particular e preferencial pelos pobres, marginalizados, pequenos e sofredores. Nosso amor real/concreto é a forma mais autêntica e eficaz de anúncio do amor de Deus.
A celebração do natal do Senhor é anúncio alegre da presença salvadora de Deus no meio de nós. Mas um anúncio que envolve e compromete nossa vida com sua ação salvífica no mundo. É uma festa de louvor (glória a Deus nos céus) e compromisso (paz na terra aos homens por ele amados). Uma festa de Esperança (Deus está conosco) que nos faz esperançar (caminhamos com Ele na construção do seu reinado de fraternidade, justiça e paz nesse mundo). Por isso, sejamos nós, uns para os outros, os votos que costumamos desejar na festa de natal, sendo sinal e instrumento do amor, da justiça, do perdão, da paz e da alegria que vem do Senhor…
Feliz Natal!
Ele está no meio de nós!
Caminhemos com Ele!